sexta-feira, janeiro 19, 2007

Entrevista exclusiva: Mind da Gap

Os Mind da Gap são um projecto já conhecido no panorama musical nacional. Lançaram em 2006 o albúm "Edição Ilimitada" e continuam a recolher em 2007, os frutos desse investimento. Presto, MC da banda, concedeu responder em exclusivo ao Onda Curta, a uma pequena entrevista.

Onda Curta (OC): O vosso projecto não é propriamente recente. Para quem ainda não vos conheces, como surgiram os Mind da Gap (MDG)?
Presto (MDG): Conheci o Ace no estádio das Antas num concerto dos Depeche Mode, eu e ele éramos dos poucos que estávamos lá para ver a 1º parte em que actuavam os Marxman - uma banda de hip hop irlandesa. Pouco tempo depois conheci o Serial através de amigos comuns num café da Avenida dos Aliados, cujo nome agora não me lembro, mas que agora é um restaurante de "fast food". Em 1993, na cidade do Porto contavam-se pelos dedos as pessoas realmente interessadas em hip-hop e este foi o factor determinante para nos termos conhecido. Começamos a reunir-nos em casa do Serial, para ouvir música e descobrimos que tínhamos gostos em comum dentro do universo do hip-hop. Para além disso rapidamente se desenvolveu uma relação de amizade e uma empatia de ideias. O Ace já "rimava" e o Serial já era dj, eu comecei a escrever as minhas rimas também. Após um período embrionário em que fizemos algumas actuações com o objectivo de juntar dinheiro para comprar material essencial, foi apenas uma questão de tempo até formarmos oficialmente a banda e fazermos a nossa primeira maquete.

OC: Sempre estiveram conotados ao hip-hop. Consideram que o vosso sucesso se deve ao facto deste género musical estar na moda ou por realmente terem uma receptividade junto do público pela vossa mensagem e postura?
MDG: Quando editámos o EP em 1995, o hip-hop nacional vivia o periodo de ressaca do "Rapublica", alguma da imprensa e media musicais acharam que nós eramos uma espécie de sucedâneo desse fenómeno. Mas rapidamente provamos o contrário com a edição do Flexogravity (1996) e depois com o Sem Cerimónias (1997). Sempre tivemos uma postura muito característica como grupo - tanto a nível musical como a nível de atitude. Desta forma posso dizer que o trigo é facilmente separado do joio mal alguém se dedique a ouvir a nossa música, assistir a um concerto nosso ou a ler uma entrevista nossa com atenção. É assim que nos sentimos confortáveis, conscientes que podemos aproximar como afastar muito do possível público. As pessoas que nos seguem ao longo dos anos estão naturalmente à vontade com isso. Fomos das poucas bandas que se manteve em actividade ao longo destes anos, já passámos por várias fases de "moda" e "fora de moda" do hip-hop. Não podemos controlar essas "tendências" (já que estamos a usar termos de moda) que acabam por afectar os factores sucesso ou fama mas não alteram a essência dos Mind da Gap. Um dos motivos de orgulho que temos como banda é que ajudamos a desenvolver e a difundir o hip hop no nosso país por tempos menos favoráveis até aos dias de hoje.

OC: Há quem diga que os "rappers" com mais sucesso, são os que mais se afastam das verdadeiras origens do rap, cujo objectivo é a crítica da sociedade. Os MDG incluem-se nesta corrente mais crítica?
MDG: Eu diria que os MDG têm a sua própria corrente, mas primeiro gostaria de aproveitar para falar sobre a "crítica social" no hip hop. Os primeiros mc's (rappers) surgiram como complemento aos dj´s para animarem as festas, o rap e o hip hop já existiam antes da "critíca social" - que é sem dúvida importante nas variadas temáticas líricas do hip hop. Mas este termo é apenas um rótulo para fácil descrição de um género, pois o hip hop fez-se notar aos ouvidos do mundo quando a voz das pessoas que descreviam as suas condições de vida em zonas desfavorecidas das cidades dos EUA, começou a incomodar a "sociedade". Agora é o hip hop que domina os "tops" de muitos países. Houve várias fases na história do hip hop desde a velha escola, a golden age, a fase consciente (a tal da critica social), a daisy age, o gangsta etc. etc, todas elas ricas em boa e variada música. Limitar a temática do rap à critica social em oposto à "formula do sucesso" é extremamente redutor. As pessoas que muitas vezes criticam argumentando dessa forma provavelmente nem sabem do que estão a falar. Goste-se ou não, com ou sem sucesso vs critica o que eu quero dizer é que acredito que o rap surgiu como forma de expressão pessoal - essa é a sua origem, e até inconscientemente, foi isso que sempre fizemos nos Mind da Gap, a nossa música é uma consequência das pessoas que somos - falamos das nossas preocupações, da nossa experiência, de coisas boas, más, do que nos apetece dizer ou achamos que é importante ser dito.

OC: Onde procuram a inspiração para a construção da vossa música?
MDG: Acho que me entusiasmei e já dei resposta a esta pergunta na parte final da questão anterior.

OC: Das 17 músicas que compõem este novo trabalho, quais as que possuem mais significado para os MDG hoje em dia, quer pelo que vos dizem pessoalmente, quer pela aceitação do público.
MDG: Entre os 3 poderá haver escolhas diferentes e para o público com certeza que também haverá outras escolhas mas pessoalmente escolheria o "Se isto nos dá prazer", "Um recado para ti", "Nocturnos". O "Não stresses" junta a escolha pessoal com a aceitação do público porque não é uma música "imediata" mas lentamente foi apanhando as pessoas e tenho esperança que o novo single o "Tilhas? São sapatilhas" apesar de ser completamente diferente do anterior também tenha bons resultados.

OC: Que projectos têm para o futuro próximo?
MDG: Para já queremos continuar a tocar e a promover o "Edição Ilimitada".